Eu Sou Seu
Eu sou seu. Eu sou vosso. De vocês. Eu não posso imaginar maior incumbência,
Do que ser seu. Irresistência, me gera a noção, com o pensamento:
“Já sou seu”. Me alimento do seu ar, do seu sangue, como o mar ao meu alcance.
Me deito e deleito em seus braços, com seu jeito de dizer, com respeito ao meu ser:
“Você é meu”. E eu sou aquele menino jogado no mundo, com traços imundos, de barro, não sujo, não.
Não sujo, só desfeito e refeito em laços e abraços, de um continente ao outro, contente e solto, e resplandecente,
Como a água do Caribe que me chama com nome de chará. Em chamas me trará, o seu coração, um nome de xodó.
Eu sou seu, afinal, eu sou vosso, esse troço, destroçado sem dó.
Amarrado num poste, com fogo, balanço o que resta do meu corpo,
Como uma bandeira que canta, que grita, e clama:
“Eu sou seu”.
Eu sou seu lixo, seu estrume, sem tamanho ou volume,
Imenso,
Sou a escória de um mundo imundo, sou a proeza da prostituição.
Sou o cântico de um vagabundo, sou a lesma presa no guidão.
E eu danço com a parábola da sua morte, da sua decomposição com a minha,
Pois você não pode morrer, e você me mata toda vez,
Cada maldita vez que
Eu sou seu.
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